sábado, 7 de novembro de 2015

ESTÉTICA ARTIFICIAL

"Tá vendo aquele edifício, moço?
Ajudei a levantar!"
Porém hoje acordei ávido por respirar o ar puro, por encher de verde os meus olhos, mas ao abrir a janela, o desenho que aparece é um rabiscado distorcido da natureza.
Em tempos remotos, a visão do horizonte vinha acompanhada de grandes montanhas coberta de vegetações, recortadas por rios e habitada por um número significativo de animais. Eram tempos em que os grandes deslocamentos eram feitos em cima de cavalos. Predominava no céu, o azul e o branco nos tempos de verão, já o verde, cor que produz relaxamento e é facilmente processada pelo sistema visual, era a cor predominante ao nosso redor.
Mas a resistência do homem em se adaptar ao meio fez-lhe modificar o ambiente. O tapete de concreto nos tirou o direito do contato com a terra, os grandes arranha-céus mudou a direção dos ventos e nos tirou o brilho do sol da manhã, os veículos coletivos nos proporcionaram deslocamentos privados do ar natural e do tempo maior de apreciação das paisagens que agora passam despercebidas. O céu agora é cinza, e o nosso redor é uma mistura de cores mal definidas.
Desproporcional, desestruturado, poluído e cheio de fatores que só produzem estresse. Esse é o desenho distorcido que o artificial provocou na natureza.

 Divaneide da S. Oliveira




POEMA DA CIRCUNSTÂNCIA
Onde estão os meus verdes?
Os meus azuis?
O arranha-céu comeu!
E ainda falam nos mastodontes, nos brontossauros,
nos tiranossauros,
Que mais sei eu...
Os verdadeiros monstros, os Papões, são eles, os arranha céus!
Daqui
Do fundo
Das suas goelas
Só vemos o céu, estreitamente, através de suas empinadas
gargantas ressecas.
Para que lhes serviu beberem tanta luz?!
Defronte
Á janela onde trabalho
Há uma grande árvore...
Mas já estão gestando um monstro de permeio!
Sim, uma grande árvore...Enquanto há verde,
Pastai, pastai, os olhos meus...
Uma grande árvore muito verde...Ah,
Todos os meus olhares são de adeus
Como um último olhar de um condenado!
 Mário Quintanta